A importância da tecnologia

26-06-2009 10:45
Wilson Jacob Filho - Folha de S. Paulo
 

Participei de uma reunião muito interessante. Médicos passaram um sábado inteiro discutindo a melhor maneira de exercer a sua profissão.
Muitas imperfeições foram apontadas, o presente foi comparado ao passado, a formação dos jovens profissionais foi questionada, enfim, nada deixou de ser lembrado como fator importante na análise crítica da prática médica.
Dentre todos os assuntos, porém, o mais comentado foi a importância da tecnologia.
Apontada por muitos como o principal oponente da medicina humanitária, foi frequentemente acusada de ser o fator maior de distanciamento entre o médico e seu paciente.
Usada como sinônimo de modernidade, a tecnologia foi criticada pelo alto custo que impõe aos diagnósticos e tratamentos, além de ser considerada a principal ferramenta com que os jovens profissionais escondem suas limitações na arte de bem examinar e avaliar seus clientes e a melhor forma de reduzir o tempo de consulta.
Infelizmente, não posso discordar inteiramente da maior parte dessas afirmações. São frequentes os exemplos de exames desnecessários, da multiplicidade de especialistas indicados e do uso indiscriminado de medicamentos sem que a essência das queixas e a avaliação adequada dos sinais e dos sintomas tenham sido priorizadas.
Discordo, porém, de que isso decorra dos avanços atuais da tecnologia. Justifico a minha opinião: desde que a ciência passou a ser o principal fundamento da atitude médica, temos sido beneficiados pelo seu progressivo desenvolvimento.
Cada um dos seus passos deve ser entendido como avanço tecnológico. Por mais incrível que possa parecer, o estetoscópio, as vacinas ou a anestesia já foram a mais recente aquisição tecnológica da sua época.
Cada qual, no seu tempo, demonstrou sua importância e foi incluído no instrumental de ação com propósitos definidos para a sua utilização. Muito tempo se passou e nenhum deles foi substituído por alguma novidade, visto que continuam atendendo adequadamente às nossas necessidades.
Esta é a verdadeira vocação da tecnologia: criar uma maneira de fazer aquilo que ainda não podia ser feito ou aprimorar aquilo que se fazia de forma inadequada, e não simplesmente tentar substituir o útil antigo pelo inútil moderno.
Vivemos um período do desenvolvimento científico em que cada descoberta é rapidamente suplantada por outra ainda mais recente. Isso não significa, porém, que esta deva substituir a anterior em uma ou mais das suas utilidades. Esse processo sempre deverá ser decorrente de uma cuidadosa estimativa da relação custo-benefício de cada uma das opções.
Dependendo das nossas necessidades, raramente precisamos da ressonância mais sofisticada, da precisão de uma cirurgia robótica ou do antibiótico de última geração, mas sempre nos sentiremos mais confortáveis e seguros ao reconhecer o olhar cuidadoso, a mão protetora e o interesse explícito de quem se propõe a dividir conosco a responsabilidade de encontrar a melhor solução.

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