Entrevista: John H. D. Downing

24-06-2009 17:37
Alexandre Matias - Estadão.com.br - Link
 

Há trinta anos pesquisando o impacto da mídia e da comunicação na política, o inglês John H. D. Downing é autor de Mídia Radical (Ed. Senac), em que traça diferentes movimentos políticos pelo mundo que começaram como pequenas manifestações regionais e localizadas para, a longo prazo, ganhar proporções globais - e os exemplos vão do movimento ambientalista à Anistia Internacional e ao movimento europeu pelas rádios livres. Diretor do Centro de Pesquisa de Mídia Global na SIUC, nos EUA, ele tem acompanhado a evolução de causas políticas com a internet com atenção e falou com o Link por telefone, de Paris. 

Veja a entrevista:

Qual a principal diferença entre o Irã em 1979 e o que está acontecendo hoje?
Em termos de tecnologia, houve algo mais ou menos parecido em 1979 com os gravadores portáteis, que eram usados para gravar o que estava acontecendo no país e mostrar para o resto do mundo.  

Mas quando o ‘gravador’ de hoje em dia - o celular - consegue filmar e tirar fotos...
Tudo muda. A comunicação através do Facebook, do Twitter e outras redes sociais é imediata, ao contrário dos gravadores que tinham de ser usados secretamente. O outro uso da internet além do celular acontece em lan-houses, que dão um fator social muito mais dinâmico ao movimento. O lugar onde as pessoas estão postando estas informações é um ambiente coletivo e público, elas não estão isoladas em suas casas. E ainda há o fato de que grande parte da população das grandes cidades no Irã hoje é formada por jovens, gente com menos de 25 anos. Isso tem um impacto tremendo neste aspecto urgente que estamos vendo. Quando estas três coisas acontecem, fica ainda mais evidente a importância da internet hoje. 

Seria possível algo desta natureza acontecer na primeira eleição de Bush, no ano 2000?
Creio que não. Primeiro, há uma questão cultural, que faz que as classes que atingiram certo nível econômico nos EUA não tenham o hábito de protestar por nada. Mas isso é algo que tem mudado: nos últimos 30 anos, uma grande parte da população do país pode estudar até a universidade, muitas mulheres estão entrando em áreas que eram dominadas apenas por homens e acredito que isso vá mudar a dinâmica desta cultura. 

É possível pensar que o processo político pode ultrapassar o conceito de representação parlamentar? As pessoas podem substituir o congresso, quando todos estiverem online?
Não gosto desta ideia, pois existe uma grande possibilidade deste resultado ser manipulado. Na minha opinião, o exemplo mais recente disso que vimos foi a manipulação da eleição californiana sobre a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo. E isso foi apenas um referendo, sobre um tema. Imagine envolvendo várias questões. 

A internet está despertando a consciência política das pessoas?
Sim, e em muitos níveis. Um deles diz respeito àquele tipo de situação que já ouvimos falar, em que duas pessoas podem jogar um mesmo jogo ou frequentar uma comunidade online, em partes diferentes do mundo, com idades diferentes e mesmo assim conseguem manter um diálogo - que pode ou não continuar fora do jogo. Isso é um nível. Mas quando entram em pauta essas redes sociais, estamos falando de algo que é complementar à interação pessoal, cara a cara. E a internet torna-se cada vez mais complementar às nossas vidas.

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