Quanto mais errar, melhor

22-07-2010 12:40

Hoje, é recompensado quem não se prende ao plano de negócios, mas se joga no mercado

O MERCADO on-line estabeleceu novos paradigmas, provocou mudanças bruscas em vários setores da sociedade e se tornou o pesadelo de alguns empreendedores -e a alegria de outros. No mercado on-line, o plano de negócios (PN) ganha uma releitura.

Antes de começar uma empresa tradicional, o primeiro passo sempre foi o de elaborar meticulosamente um plano de negócios. Planilhas, gráficos, análises de mercado, projeção do negócio e outros tantos itens são partes fundamentais de um negócio. Gastam-se fortuna, energia, tempo e muita dedicação na montagem de um plano detalhado, bem apurado.

Sempre foi assim: o valor do PN é relacionado ao custo do possível fracasso do empreendimento e da habilidade do plano de minimizar esse fracasso.

Quando se vai começar um empreendimento de alto financiamento -por exemplo, uma grande construtora ou uma companhia aérea-, o custo do fracasso é altíssimo. Cada vez que se recomeça a empresa, perde-se muito tempo e dinheiro. O que muitos não perceberam ainda é que, na web, as coisas funcionam de forma radicalmente diferente.

No empreendimento on-line, o custo de lançamento de um protótipo é virtualmente zero. Vê-se facilmente como o novo produto se comporta no mercado. As pessoas experimentam e testam a novidade de graça. São consumidores reais.

Se o protótipo não vai bem, o empreendedor aprende com o erro e rapidamente aprimora o negócio e lança o produto de forma aprimorada. O produto é testado em "real time". Portanto, boa parte do que o PN oferece perde importância.
Na internet, quanto mais rápido você falha, mais rapidamente você melhora o seu produto e agrada a seu público. Se você não está experimentando e falhando várias vezes por dia, você não está aprendendo rápido o suficiente.

Por exemplo, a PayPal, grande empresa norte-americana de pagamentos, começou como um sistema para transferência de dinheiro via palmtop, mas logo ao lançar o protótipo viu que não daria certo.

A empresa rapidamente adaptou seu produto para o envio de dinheiro por e-mail. Poucos anos depois, foi comprada pela eBay por mais de US$ 1 bilhão.

O PN também deve fornecer um retrato do mercado que se quer atingir. Um negócio tradicional dispõe de dados e informações com alto nível de confiabilidade e precisão.

Quando falamos em iniciativas on-line e em inovações, a realidade é absolutamente diferente. Em geral, ninguém é capaz de prever o comportamento desse novo mercado.

Em geral, quando o negócio é lançado, a realidade se mostra bem diferente do previsto, provando que, nesse momento, o PN mostra-se uma ferramenta obsoleta.

Foi-se o tempo em que começar uma "start-up" e captar recurso para a operação exigia um sólido plano de negócios.

Hoje é mais fácil uma "start-up" com o produto à venda, e sem plano de negócios, conseguir investidores do que outra que tem plano de negócios detalhado, mas sem produto no ar. Hoje, os investidores estão procurando equipes com grandes habilidades de execução e que possuam produtos amplamente aceitos pelo mercado.

Isso não significa que o empreendedor deva dispensar o modelo tradicional de planejamento. Pensar com calma no seu negócio, de forma estruturada e cuidadosa, ainda é importante.

Fale com seu público-alvo e garanta um produto que satisfaça uma necessidade real do mercado. Resumindo, faça seu dever de casa, mas não deixe que ele atrase o desenvolvimento do seu produto no ritmo que a web pede.

A morte do plano de negócios é uma evolução natural. Hoje o seu produto é o seu próprio plano de negócios. É ele que vai atrair os investimentos, e não os números em uma planilha qualquer.

Esse novo entendimento do PN leva o mercado a recompensar o empreendedor que não se prende ao plano, mas se joga no mercado.


JULIO VASCONCELLOS, 29, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano e gerente para o Brasil do Facebook. Escreve às quintas-feiras, mensalmente, nesta coluna.

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