TV vai migrar para a web, diz fundador do YouTube

01-09-2009 11:02
André Borges - Valor Econômico
 
"Não será o YouTube que matará a TV [como ela existe hoje], será a internet". A declaração feita por Chad Hurley, um dos fundadores do site de vídeos YouTube, ontem durante um evento em São Paulo, pode até carregar um tom de provocação - e tem mesmo -, mas não é totalmente desprovida de razão. Tranquilo, como quem fala sobre qualquer amenidade, Hurley ainda vai além: "Nos próximos anos, a maior parte do conteúdo de TV será transmitido pela internet, o serviço tradicional de broadcasting está morto."

O YouTube tem inspirado parte do roteiro revolucionário projetado por Hurley. A ideia de criar o site de compartilhamento de vídeos surgiu em janeiro de 2005, quando Hurley, então com 28 anos, e mais dois amigos de faculdade tentavam trocar, pela internet, os vídeos que haviam feito de uma festa com amigos, em San Francisco. No mês seguinte, o domínio "YouTube.com" foi registrado e o site foi desenvolvido nos meses subsequentes. Pouco mais de um ano depois, em outubro de 2006, Hurley e seus colegas estavam bilionários, com o anuncio de aquisição do site pelo Google, que pagou nada menos que US$ 1,7 bilhão pela companhia.

É verdade que a rápida revolução causada pelo YouTube, criador de fenômenos recentes como Susan Boyle e de inovações eleitorais como a campanha de Barack Obama, tem provocado reações profundas de produtoras de TV em todo o mundo, que fatalmente terão de se adequar a uma nova forma de oferecer conteúdo televisivo. Isso não significa, porém, que o próprio YouTube seja, ou tenha, a resposta para tudo.

Desde que comprou a empresa, o Google busca alternativas financeiras para o YouTube, mas a realidade é que o gigante das buscas ainda não conseguiu lucrar com a sua aquisição. O site de vídeos é hoje um dos principais destinos de usuários da internet, com 428 milhões de visitantes únicos em junho, segundo a comScore. O desafio é converter toda essa audiência em receita.

"Há muita especulação sobre essa pressão que o Google estaria sofrendo para gerar resultados com o YouTube", disse Hurley, durante o evento organizado pela empresa de mídia Now!Digital. "O que acontece é que, internamente, nós não vivemos toda essa pressão. A audiência está aí e nós temos trabalhado muito e nossas ferramentas de oferta de propaganda estão cada vez melhores."

O Google, comentou Hurley, já tem uma plataforma de sistemas consolidada para a oferta de publicidade relacionada a serviços de busca. "Agora estamos trabalhando na criação de uma solução de publicidade para a busca de vídeos, onde os anúncios serão mais segmentados, exibidos de acordo com o perfil do usuário", comentou, sem citar mais detalhes.

Neste mês, o YouTube informou que passará a distribuir uma série de clipes curtos de empresas da Time Warner, como CNN e Cartoon Network. Recentemente, comentou Hurley, a empresa passou a testar diferentes formatos de anúncios e os resultados estão correspondendo às expectativas. "A TV já está presente no computador e a tendência é que ela se espalhe cada vez mais por celulares e demais dispositivos móveis", comentou Hurley.

Analistas de Wall Street, que ainda assistem com certo conservadorismo as movimentações comerciais do Google em busca de modelos rentáveis de negócios, estimam que a receita do YouTube tem capacidade de dobrar neste ano, atingindo cerca de US$ 500 milhões. "Ser uma empresa do Google permitiu que nós pudéssemos acelerar nosso crescimento. Ontem éramos uma empresa de uma dúzia de pessoas, hoje somos uma companhia com 600 funcionários", disse.

A facilidade de Hurley em decretar a extinção da TV não é a mesma quando ele é questionado sobre como estará o mercado mundial de televisão e o posicionamento do YouTube daqui a dez anos. "Fica difícil fazer qualquer tipo de previsão, nós ainda não temos nem cinco anos."
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